Ao longo do século XIX, o Afeganistão tornou-se um campo de batalha estratégico entre o Império Britânico e o Império Russo, no contexto do chamado “Grande Jogo”. O país, localizado em uma posição geopolítica crucial, enfrentou diversas invasões e tentativas de controle por potências estrangeiras, levando a uma série de movimentos de resistência para preservar sua soberania. Os líderes afegãos e as tribos locais desempenharam um papel fundamental na luta contra a ocupação, culminando em batalhas significativas e na reafirmação da identidade nacional. Neste artigo, exploraremos os principais eventos e figuras que moldaram a luta pela independência afegã no século XIX.
O “Grande Jogo” e o Afeganistão
No século XIX, o Afeganistão tornou-se um ponto focal na disputa imperial entre o Império Britânico e o Império Russo. Os britânicos buscavam expandir sua influência na região para proteger a Índia Britânica, enquanto os russos avançavam na Ásia Central. Esse confronto estratégico levou a várias intervenções militares no Afeganistão.
A Primeira Guerra Anglo-Afegã (1839-1842) foi um dos primeiros conflitos significativos nesse contexto. Os britânicos, tentando instalar um governo pró-ocidental em Cabul, enfrentaram forte resistência das tribos afegãs, culminando em sua desastrosa retirada de Cabul, onde quase todas as tropas britânicas foram aniquiladas. Esse evento demonstrou a resiliência afegã e marcou o início de uma longa luta contra a dominação estrangeira.
A Segunda Guerra Anglo-Afegã (1878-1880)
Após a Primeira Guerra Anglo-Afegã, os britânicos mantiveram sua influência indireta no Afeganistão, mas os conflitos continuaram. Em 1878, a Segunda Guerra Anglo-Afegã começou quando os britânicos tentaram reforçar seu controle sobre o país. Inicialmente, conseguiram vitórias militares, mas enfrentaram uma resistência feroz liderada pelo emir Abdur Rahman Khan.
Após batalhas intensas, os britânicos assinaram o Tratado de Gandamak em 1879, garantindo controle sobre a política externa do Afeganistão, enquanto o emir mantinha o controle interno. Esse tratado foi um marco importante na luta pela soberania do país, pois, embora o Afeganistão não estivesse totalmente independente, conseguiu evitar a ocupação total pelos britânicos.
A Ascensão de Abdur Rahman Khan e a Unificação Nacional
Abdur Rahman Khan, conhecido como o “Emir de Ferro”, desempenhou um papel fundamental na consolidação do Afeganistão como um Estado independente. Após a retirada britânica parcial, ele iniciou uma série de reformas militares e administrativas para fortalecer sua posição contra ameaças internas e externas.
Seu governo foi marcado por políticas centralizadoras e repressão contra opositores, incluindo tribos rebeldes. Apesar de sua aliança com os britânicos para garantir a autonomia interna do Afeganistão, ele conseguiu manter o país livre de ocupação estrangeira direta, preparando o caminho para a futura independência completa.
O Papel das Tribos Afegãs na Resistência
As tribos afegãs sempre foram a espinha dorsal da resistência contra invasores estrangeiros. A estrutura tribal do Afeganistão permitiu que grupos locais organizassem revoltas e ataques surpresa contra os britânicos. Durante as guerras anglo-afegãs, tribos como os Ghilzais e os Durranis desempenharam papéis cruciais na defesa do território.
A resistência não se limitou apenas ao combate armado; líderes tribais também participaram ativamente da diplomacia, negociando acordos estratégicos para manter a autonomia afegã. Essa tradição de resistência tribal continuou ao longo dos séculos, influenciando a política do país até os dias atuais.
5imz_ O Tratado de Durand e Suas Consequências
Em 1893, o Tratado de Durand foi assinado entre o Emir Abdur Rahman Khan e os britânicos, estabelecendo uma fronteira entre o Afeganistão e a Índia Britânica (atual Paquistão). Essa linha divisória, conhecida como Linha Durand, foi imposta pelos britânicos e dividiu artificialmente as populações pashtuns entre os dois territórios.
O tratado gerou controvérsias que persistem até hoje, pois muitos afegãos nunca aceitaram essa fronteira como legítima. Esse acordo também limitou a expansão territorial do Afeganistão e consolidou a influência britânica na região.
6imz_ Legado da Luta do Século XIX para a Independência do Afeganistão
A luta afegã pela independência no século XIX estabeleceu as bases para a resistência contínua contra potências estrangeiras. Apesar das intervenções britânicas e das dificuldades internas, o Afeganistão manteve sua identidade nacional e conseguiu preservar sua soberania parcial até alcançar a independência total em 1919, após a Terceira Guerra Anglo-Afegã.
O legado desses movimentos de resistência ainda é visível na cultura política afegã, onde a luta pela autodeterminação continua a desempenhar um papel central. O espírito de independência cultivado ao longo do século XIX ajudou a moldar a identidade do Afeganistão como uma nação resiliente contra a dominação estrangeira.
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